Esse é o primeiro dos livros que estou lendo para a prova do mestrado da Usp em Estudos Culturais, e já adianto que gostei muito do tema. É interessante o que um bom livro faz conosco. Tira-nos do eixo, traz muita inquietação e (quando é bom mesmo) nos deixa sem todas as respostas.
Sem dúvida, um livro com um banho de erudição, Orientalismo- O Oriente como invenção do Ocidente, de Edward W. Said apresenta a concepção do que é Oriente e o que é ser oriental como o resultado de uma grande construção histórica, presente ao longo dos séculos, nos mais diversos ramos culturais como a literatura, linguística, teoria econômica, relatos de viagens, discursos políticos, sociologia, antropologia, religião (tanto seu estudo como sua prática) etc.
Essa construção implicou em entender e reforçar o Outro (o oriental), como alguém inferior, desprovido de qualidades humanas que possibilitassem uma vida como "nós" (os ocidentais) sempre conhecemos. Servindo para justificar intervenções constantes, seja de fora, forjando um discurso de atraso em relação a “nós”, ou dentro, colonizando essas nações em vários momentos e por vários paises que se alternam no poder como potências mundiais, o Oriente foi saqueado de sua composição, que apesar de ser entendida pelo orientalista como única, é plural (de cada pais, cada nação, cada cidade, cada família). Ao colocar no mesmo “balaio” toda uma parte do mundo, e de saída considerá-la atrasada, parada no tempo, o Ocidente apresenta-se como única garantia de um futuro digno e “humanamente viável”, fato que remonta os séculos e é observado nos noticiários até hoje.
O que mais me chama a atenção no livro é a relação subjetiva (mais direta) entre essa imagem do Outro (menor, menos capaz, medíocre) e a justificativa para sua “salvação”, o que justificou as intervenções coloniais e as atuais intervenções políticas, militares e econômicas impostas pelo “mundo civilizado”, principalmente no Oriente Médio. Os exemplos dados pelo autor, referenciando documentos históricos, é um sem fim de argumentos etnocêntricos (ou eurocentricos), que corroboraram a expansão (e desestruturação) da imensa maioria da Ásia.
É importante que reconheçamos que é impossível descrever como um todo, a imensa região que em nossas mentes abrange o Oriente (Índia, Egito, Japão, China, e tudo mais que nosso conhecimento escolar compreender do “lado de lá”), homogeneizando a cultura, a geografia, os hábitos. É comum, como descreve o autor, que pensemos em um povo oriental longínquo, misterioso, místico, com uma sensualidade a flor da pele (como a de uma gueixa, ou como os homens com várias mulheres retratados pelas novelas) e, mais recentemente (pensando no Oriente Médio) perigoso.
Situando essa discussão de forma contemporânea, podemos citar o cinema (filmes como “300”, “Diário de uma Gueixa”) ou algumas músicas, inclusive brasileiras (vejam exemplos abaixo) como campo de influências desse orientalismo. Também (ou principalmente) na política, vastos ensaios defendem a intervenção do Ocidente para pacificar os Estados do Oriente Médio, a fim de garantir a paz (ou como alguns dizem as colunas básicas da civilidade). Entender o Oriente sob o prisma do orientalismo é o mesmo que entender o Brasil sob o prisma da América Latina ou do Terceiro Mundo, com as generalizações pobres que essa polarização implica.
Vejamos alguns exemplos brasileiros, retirados de músicas (mesclei os bem aceitos da MPB e os “malditos” de outros gêneros para agradar a todos). É perceptível a generalização do que é ser Oriental, seja a mulher oriental ou o “espirito” Oriental (que mesmo quando é descrito como japonês, no fundo também é Oriental, por ser japonês – dentro do orientalismo- um dos sinônimos de Oriental):
Oriental Cazuza
Nunca mais viagens pro Japão
Nunca mais chicletes e açafrão
Nunca mais teu corpo de Omo bom
E o riso de metade de sabão
Mas nada nesse mundo é nunca mais
E o sol se põe e a alvorada vem
Japonesa maquiada em fel
Teu jogo oriental de mulher má
Você pensa com o coração
E ama com o cérebro ladrão
É cultura, é literatura
A vida não pode ser tão dura
O mundo tá ficando oriental
O mundo tá ficando marcial
E o meu coração é um bombom estragado
Na minha decadência de drogado
Quando eu me tornar oriental
E o mundo se tornar oriental
Ninguém vai ter pena de mim
Do bárbaro sem destino e burro
Nunca mais sushi, televisão
Nunca mais teu branco de doer
Doer, japoninha, você dói!
Sabe lá se eu vou me acostumar
Mas nada nesse mundo é nunca mais
E o sol se põe e a alvorada vem
Você cuidava, baby, de mim tão bem
E ria por trás, como a enfermeira faz
O mundo tá ficando oriental
O mundo tá ficando marcial
E o meu coração é um bombom estragado
Na minha decadência de drogado
http://www.vagalume.com.br/cazuza/oriental.html#ixzz1YpF4ePqT
Nunca mais viagens pro Japão
Nunca mais chicletes e açafrão
Nunca mais teu corpo de Omo bom
E o riso de metade de sabão
Mas nada nesse mundo é nunca mais
E o sol se põe e a alvorada vem
Japonesa maquiada em fel
Teu jogo oriental de mulher má
Você pensa com o coração
E ama com o cérebro ladrão
É cultura, é literatura
A vida não pode ser tão dura
O mundo tá ficando oriental
O mundo tá ficando marcial
E o meu coração é um bombom estragado
Na minha decadência de drogado
Quando eu me tornar oriental
E o mundo se tornar oriental
Ninguém vai ter pena de mim
Do bárbaro sem destino e burro
Nunca mais sushi, televisão
Nunca mais teu branco de doer
Doer, japoninha, você dói!
Sabe lá se eu vou me acostumar
Mas nada nesse mundo é nunca mais
E o sol se põe e a alvorada vem
Você cuidava, baby, de mim tão bem
E ria por trás, como a enfermeira faz
O mundo tá ficando oriental
O mundo tá ficando marcial
E o meu coração é um bombom estragado
Na minha decadência de drogado
http://www.vagalume.com.br/cazuza/oriental.html#ixzz1YpF4ePqT
Gueixa Oswaldo Montenegro
Ah! Eu queria ser gueixa, deixa
Redocicar minha mão
Tocar a tua madeixa, deixa
Que eu recupere a paixão
A minha mão te procurar, deixa
Que eu te responda, pois não
E que eu te sirva sem queixa, deixa
Que eu recupere a paixão
Pra que a insípida lógica
Ceda pra mágica o seu turbilhão
Pra que você reconheça
Embora não pareça, que é minha a questão
Ah! Eu queria ser gueixa, deixa
Te aliviar no verão
E quando o sol te torturar, deixa
Que eu seja a lua então
A minha mão te procurar, deixa
Que eu te responda, pois não
E que eu te sirva sem queixa, deixa
Que eu recupere a paixão
Pra que a insípida lógica
Ceda pra mágica o seu turbilhão
Pra que você reconheça
Embora não pareça, que é minha a questão
Ah! Eu queria ser gueixa, deixa...
Vício Elegante Belchior
Se uma estrela cai do céu
Vai para o Japão
E entra em meu quarto de hotel
Como a gueixa de plantão
Todo zen, fumando espero
Essa deusa vem me ver
Mais sensual que bolero
Em calma, luxo e prazer
Versos perversos das "Flores do Mal"
Nesse romance, fantasia oriental
Cenas obscenas? Não! Apenas de amor!
Que estou navegando em uma tela multicor
Ligo o rádio contra o tédio
Que vício elegante!
Em gozo em paz teu assédio
Numa onda de amante!
O viver é de improviso
Faz sua própria lei...
Mas navegar é preciso:
Vou mandar-te um lay-lady-lay
Tão pós-moderna a eterna paixão
Nesse programa guia de navegação
Vi seu poema no meu computador
Que estou navegando numa tela multicor.
http://www.vagalume.com.br/belchior/vicio-elegante.html#ixzz1YpDH4WPb
Japonesa Seu Jorge
Japonesa vou dizer arigatô
Eu anteontem comi o seu sushi
Perdidamente apaixonado estou
Eu quero ser o seu amado
Quero ser seu tamagoshi
Japonesa vou dizer arigatô
Eu anteontem comi o seu sushi (e o sashimi)
Perdidamente apaixonado estou
Eu quero ser o seu amado
Quero ser seu tamagoshi
Me dê carinho
Dê beijinho com jeitinho
Me prepara a mamadeira
Com um pouquinho de sakê
Tô aprendendo a comer de palitinho
Vou largar a Capoeira
E praticar o karatê
Ó minha gueixa
Sei que eu não posso me queixar
Mas realmente
Eu fiquei sem dinheiro algum
Não tenho um real
Você também não tem
Nenhuma moedinha de "yen"
Não tenho um real
Você também não tem
Nenhuma moedinha de "yen"
Nhe nhem nhem...
Japonesa vou dizer arigatô
Eu anteontem comi o seu sushi (e o sashimi)
Perdidamente apaixonado estou
Eu quero ser o seu amado
Quero ser seu tamagoshi
Japonesa vou dizer arigatô
Eu anteontem comi o seu sushi (e o sashimi)
Perdidamente apaixonado estou
Eu quero ser o seu amado
Quero ser seu tamagoshi
Me dê carinho
Dê beijinho com jeitinho
Me prepara a mamadeira
Com um pouquinho de sakê
Tô aprendendo a comer de palitinho
Vou largar a capoeira
E praticar o karatê
Ó minha gueixa
Sei que eu não posso me queixar
Mas realmente
Eu fiquei sem dinheiro algum
Não tenho um real
Você também não tem
Nenhuma moedinha de "yen"
Não tenho um real
Você também não tem
Nenhuma moedinha de "yen"
Nhe nhem nhem...
Yakssoba
Yakssoba
Tekamaki
Yakssoba
Yakssoba
Yakssoba
Yakssoba
Yakossoba
Shoyo
http://www.vagalume.com.br/seu-jorge/japonesa.html#ixzz1YpDxGpdp
Japonesa vou dizer arigatô
Eu anteontem comi o seu sushi
Perdidamente apaixonado estou
Eu quero ser o seu amado
Quero ser seu tamagoshi
Japonesa vou dizer arigatô
Eu anteontem comi o seu sushi (e o sashimi)
Perdidamente apaixonado estou
Eu quero ser o seu amado
Quero ser seu tamagoshi
Me dê carinho
Dê beijinho com jeitinho
Me prepara a mamadeira
Com um pouquinho de sakê
Tô aprendendo a comer de palitinho
Vou largar a Capoeira
E praticar o karatê
Ó minha gueixa
Sei que eu não posso me queixar
Mas realmente
Eu fiquei sem dinheiro algum
Não tenho um real
Você também não tem
Nenhuma moedinha de "yen"
Não tenho um real
Você também não tem
Nenhuma moedinha de "yen"
Nhe nhem nhem...
Japonesa vou dizer arigatô
Eu anteontem comi o seu sushi (e o sashimi)
Perdidamente apaixonado estou
Eu quero ser o seu amado
Quero ser seu tamagoshi
Japonesa vou dizer arigatô
Eu anteontem comi o seu sushi (e o sashimi)
Perdidamente apaixonado estou
Eu quero ser o seu amado
Quero ser seu tamagoshi
Me dê carinho
Dê beijinho com jeitinho
Me prepara a mamadeira
Com um pouquinho de sakê
Tô aprendendo a comer de palitinho
Vou largar a capoeira
E praticar o karatê
Ó minha gueixa
Sei que eu não posso me queixar
Mas realmente
Eu fiquei sem dinheiro algum
Não tenho um real
Você também não tem
Nenhuma moedinha de "yen"
Não tenho um real
Você também não tem
Nenhuma moedinha de "yen"
Nhe nhem nhem...
Yakssoba
Yakssoba
Tekamaki
Yakssoba
Yakssoba
Yakssoba
Yakssoba
Yakossoba
Shoyo
http://www.vagalume.com.br/seu-jorge/japonesa.html#ixzz1YpDxGpdp
Gueixa No Tatame Gilberto Gil
Não sou de queixa
Mas a gueixa me iludiu
Logo de cara, umeboshi
Uma ameixa salgada
Quieto, seu mano engoliu
Um forte impacto no ilíaco
Mas se era afrodizíaco, tudo bem
Gueixa não é sempre que se tem assim
Depois ela serviu, sake, sushi, nato, tofu
Como encontrar apetite pra tanto palpite no menu
Não sei se vinha da ameixa mas a deixa era
Luzes, câmera, ação !
Não aguentava mais meu coração
Minha gueixa no tatame
Parecia um camafeu
Uma gueixa no tatame
E eu ali perto do céu
Olhei pra ela e disse
Sonho, sonho meu
Nesse mesmo instante
Incontinente ela adormeceu
Não foi possível libertá-la do morfeu
http://www.vagalume.com.br/gilberto-gil/gueixa-no-tatame.html#ixzz1YpD0y2tJ
Não sou de queixa
Mas a gueixa me iludiu
Logo de cara, umeboshi
Uma ameixa salgada
Quieto, seu mano engoliu
Um forte impacto no ilíaco
Mas se era afrodizíaco, tudo bem
Gueixa não é sempre que se tem assim
Depois ela serviu, sake, sushi, nato, tofu
Como encontrar apetite pra tanto palpite no menu
Não sei se vinha da ameixa mas a deixa era
Luzes, câmera, ação !
Não aguentava mais meu coração
Minha gueixa no tatame
Parecia um camafeu
Uma gueixa no tatame
E eu ali perto do céu
Olhei pra ela e disse
Sonho, sonho meu
Nesse mesmo instante
Incontinente ela adormeceu
Não foi possível libertá-la do morfeu
http://www.vagalume.com.br/gilberto-gil/gueixa-no-tatame.html#ixzz1YpD0y2tJ
Koiô Shi Mashô Trem da Alegria
A liberdade é um bairro onde um dia eu fui morar
Meu Deus, nunca vi tanto japonês
Na escola uma menina não parava de me olhar
Eu vou contar a história pra vocês
Olhinhos de ameixa
Jeitinho de gueixa
E eu fazendo planos pra ganhar o seu amor
Trepei na cadeira
Plantei bananeira
E ela si abaixava e só dizia arigatô
Até a professora deu um grito comigo
Menino sai da sala, ou se comporta de uma vez
O que a japonesinha fez comigo eu não digo
Mas nunca mais esqueço o que ela disse em japonês
Anatagasiquê, é que eu gosto de você
koiô shi mashô, sua namorada sou
(4x)
Amor Oriental: Pique Novo
Eu em minha vida torta
Difícil até pra me sustentar
Deus aperta mas não enforca
Eu sabia que ia melhorar
Um empresário japonês
Me viu batucando na palma da mão
Finalmente chegou minha vez
No outro mês eu já estava no Japão (sayonara)
Conheci uma linda japonesa
Que adorava dançar miudinho, miudinho, miudinho
Nosso amor era uma beleza, ai, ai, ai, ai
Aquele olhar pequenininho.
Voltei com saudades mas 'tô infeliz
Ela faz tanta falta pro meu coração
Se ela não vier no meu país
Eu volto correndo pro Japão
Meu amor oriental
Sem você meu pranto chora
Vem brincar meu carnaval
Vem sair na minha escola
A liberdade é um bairro onde um dia eu fui morar
Meu Deus, nunca vi tanto japonês
Na escola uma menina não parava de me olhar
Eu vou contar a história pra vocês
Olhinhos de ameixa
Jeitinho de gueixa
E eu fazendo planos pra ganhar o seu amor
Trepei na cadeira
Plantei bananeira
E ela si abaixava e só dizia arigatô
Até a professora deu um grito comigo
Menino sai da sala, ou se comporta de uma vez
O que a japonesinha fez comigo eu não digo
Mas nunca mais esqueço o que ela disse em japonês
Anatagasiquê, é que eu gosto de você
koiô shi mashô, sua namorada sou
(4x)
Amor Oriental: Pique Novo
Eu em minha vida torta
Difícil até pra me sustentar
Deus aperta mas não enforca
Eu sabia que ia melhorar
Um empresário japonês
Me viu batucando na palma da mão
Finalmente chegou minha vez
No outro mês eu já estava no Japão (sayonara)
Conheci uma linda japonesa
Que adorava dançar miudinho, miudinho, miudinho
Nosso amor era uma beleza, ai, ai, ai, ai
Aquele olhar pequenininho.
Voltei com saudades mas 'tô infeliz
Ela faz tanta falta pro meu coração
Se ela não vier no meu país
Eu volto correndo pro Japão
Meu amor oriental
Sem você meu pranto chora
Vem brincar meu carnaval
Vem sair na minha escola
Pensando na sala de aula (como não poderia deixar de ser, até pelo tema do Blog), essa visão arraigada em cada um de nós, é transmitida, -juntamente com os modelos contaminados por essa visão na mídia-, a cada aluno, seja nas aulas de História, Geografia, Artes, etc. Pensemos na explicação básica dada a uma criança sobre o descobrimento. “Em certo momento, os portugueses foram ao Oriente buscar especiarias”. Que Oriente é esse que descrevo? Um mundo diferente daquele conhecido pelos europeus? O outro lado do Mundo? Vejam que essa discussão não está tão longe de nossas práticas.
Por essas e por outras discussões que o livro é um choque de realidade em alguns dos valores (ou saberes) que de tão antigos, tornaram-se constitutivos de cada um de nós, e que se não são discutidos, é em grande parte porque não são conhecidos.
Fica a dica e boa leitura!!
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