Tenho percebido ultimamente dentro do meu oficio, ser mais comum que pensava a unidade de pensamento encerrada no discurso docente sobre os “alunos de hoje em dia”. Refiro-me aqui ao aluno de “hoje em dia” empobrecido culturalmente, ao aluno abnegativo e por que não dizer sem futuro, que é constantemente citado nas reuniões pedagógicas. Ele obviamente é filho da “mãe não participativa”, que diferentemente da “mãe de antigamente” é desinteressada pelo acompanhamento de seu filho. Esse “aluno de hoje em dia” é antes de tudo uma realidade de escola pública, que não valoriza aquilo que não percebe ter “pago”, como um bom aluno de escola privada. Ele falta muito, é desatento por natureza, por vezes aparenta que não presta a atenção em nada, beirando o famoso DDA coletivo.
Se deixarmos nossas justificativas (me incluo aqui) por um minuto e olharmos para esse aluno como um habitante desse planeta, precisamos fazer algumas considerações sobre esses discursos proferidos em larga escala. Primeiro precisamos aceitar que esse aluno realmente é diferente, mas não pela nossa atual justificativa (de que é pior que o “aluno de antigamente”), e sim porque habita um mundo que tem características diferentes. Desde seu nascimento, nas instâncias que estão fora da escola (mídia e família) e que se configuram entre si de melhor forma que entre a escola, esse aluno já atua militantemente, buscando um espaço nessa complexidade chamada mundo pós-moderno. Mais do que ter futuro ou não, esse aluno de “hoje em dia” já está no futuro, que discutíamos a 10 ou 20 anos atrás.
Segundo, precisamos ponderar que se a educação escolar de caráterseletivo) aquilo que entra completamente em desacordo com a sua essência de humano pós-moderno. Dessa forma nossas práticas, como muito se discute “fora” ( e somente fora) da sala de aula seriam fundamentais para reativar o interesse de que tanto falamos. Se não assumirmos a responsabilidade sobre a formação de nossos alunos, deixaremos que as outras instâncias (família-midia, ou o mundo lá fora) o façam se nossa ajuda ou concessão. intencional, por principio moderno é um ato de mediação entre sujeitos onde o professor ao mesmo tempo em que ensina aprende, quando digo que o aluno não participa ou que é desinteressado, posso encontrar cenários onde essa mediação não ocorre, pois o aluno não encontra significado na escola, e logo deixa de contribuir nessa mediação, agravando o ciclo e tornando a não aceitação do professor das diferenças dos (e entre os) alunos a base para seu desinteresse. Se esse aluno é sujeito de si e possui de forma intrínseca estabelecido o seu senso de autonomia, é de se esperar que em alguma medida se defenda de uma educação que muitas vezes está em desarmonia com os anseios de sua época, e filtre (pensemos em um ouvido
Terceiro, precisamos aceitar que somos (me incluo novamente) tradicionais por essência, ou melhor, por formação. Fomos formados em um sistema que premiava aqueles que dominavam o “jogo” de controle e submissão a que éramos encerrados, e onde o “bom aluno” ou o “aluno de antigamente” era ( e muitos dos professores assim o foram, pensemos bem em quem eram os melhores alunos...) aquele que fazia absolutamente tudo o que o professor demandava. Essa essência nos persegue e nos define como professores até hoje, pois qualquer ato de insubordinação pedagógica, seja não escutar o que falamos, não copiar a lição ou não fazer as tarefas de casa, são atos de rebeldia inconteste, punidos com o descrédito de um bom futuro. No fundo, nos ressentimos dessa atitude diferente desse aluno de “hoje em dia”, que mostra uma outra percepção de escola, educação e escolarização.
Mesmo a formação acadêmica, por seu constante distanciamento das práticas pedagógicas, tende a nos colocar opostos as possíveis mudanças de entendimento de um outro diferente. Por não me sentir amparado pela teoria educacional em meus anseios mais diretos (ou no meu dia-a-dia, como costumam dizer alguns professores), me vingo inconscientemente, assumindo como modelos de educação, escola e de “bom aluno” aqueles que vivenciei, e que como muitos docentes dizem ”me trouxeram até aqui”, me “fizeram vencer na vida”; como se usasse uma fórmula que eu já tomei antes e conheço os efeitos, mesmo que seja para outro paciente, bem diferente de mim.
“Professores de hoje em dia” pensemos todos nisso antes de nos queixarmos dos “alunos de hoje em dia”.
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